O Presidente norte-americano, Joe Biden, evocou hoje a memória dos milhões de africanos escravizados, entre os quais muitos angolanos, e disse que a relação entre Angola e EUA é uma “lição para o mundo”. A escravatura moderna é diferente. Os escravocratas dos angolanos, por exemplo, são hoje os próprios dirigentes… angolanos.
Joe Biden cumpriu hoje, no Museu Nacional da Escravatura, a sua última etapa da visita em Luanda, discursando perante dezenas de individualidades, entre as quais membros do Governo angolano, dirigentes de partidos da oposição angolana, empresários e líderes associativos, bancários e activistas.
O discurso centrou-se na ligação histórica entre os dois países, marcada pela escravatura, e nos milhões de dólares que os EUA já investiram e estão dispostos a investir em África e Angola.
Bem disposto, apesar da chuva persistente que acinzentou as vistas para a ilha do Mussulo e ensopou democraticamente individualidades e jornalistas, Biden gracejou, pediu aplausos e insistiu no empenho norte americano com Árica, voltando ao passado para recordar a marcha forçada de muitos homens e mulheres nascidos livres em Angola, levados como escravos para a América e baptizados numa fé estrangeira contra a sua vontade, naquele mesmo edifício onde hoje funciona o museu e que serviu anteriormente como capela.
“Cruel, brutal, desumanizante”, disse Biden a propósito da origem da nação, frisando que desde a guerra civil até ao movimento de direitos humanos a história dos EUA foi marcada pela injustiça racial.
O Presidente dos EUA salientou que quis honrar a ligação entre dois povos e homenagear gerações de angolanos e famílias americanas, frisando que é dever das grandes nações enfrentar a história, motivo pelo qual escolheu aquele local para falar.
Sobre a actual relação com Angola, disse que evoluiu de distante para “mais forte do que nunca hoje”, garantindo que foi seu objectivo construir uma parceria forte com o continente da África, trazendo o dinamismo do sector privado americano e a experiência do governo norte-americano para apoiar as aspirações dos líderes e empresários africanos.
“Mais de 20 directores de agências governamentais e membros do meu gabinete viajaram para a África, distribuindo mais de 40 mil milhões de dólares em investimentos até agora”, disse Biden, elencando, também, mais de 1.200 negócios novos entre as empresas africanas e americanas, totalizando 52 mil milhões de dólares, incluindo investimentos em energia solar, telecomunicações, infra-estruturas e parcerias com companhias americanas para expandir as oportunidades para o turismo.
Sobre Angola, afirmou que os Estados Unidos investiram 3 mil milhões de dólares no decurso da sua administração promovendo todos os sectores, da energia, à saúde e desporto, sendo actualmente Angola campeã de basquete da Liga Africana depois de ser lançada pela liga norte-americana.
O chefe de Estado norte-americano disse ainda que os EUA apoiam o aumento da presença da África no Conselho de Segurança da ONU nas Nações Unidas e anunciou mais de mil milhões de dólares em ajuda humanitário para os africanos deslocados.
“Nós sabemos que os líderes africanos ou cidadãos procuram mais do que ajuda”, prosseguiu, sublinhando que os EUA querem expandir a relação em África, passando de ajuda para investimentos e comércio.
Joe Biden considerou que nenhum lugar em África é actualmente mais emocionante do que Angola, nomeadamente devido ao Corredor do Lobito, cujo financiamento estará em foco numa conferência internacional, quarta-feira, em Benguela, na qual vai participar.
Biden abordou igualmente a parceria entre Angola e os Estados Unidos no que diz respeito ao apoio à paz e à segurança na região, parabenizando João Lourenço pela sua liderança na mediação dos conflitos regionais e por falar contra a guerra da Rússia contra a Ucrânia.
“É importante, é importante que os líderes falem”, reforçou.
Biden, que está nas últimas semanas da sua presidência, disse aos presentes que poderiam aplaudi-la, ou não, e acrescentou que fazia questão de vir a Angola porque acredita que o futuro passa por este país e por África e a história de Angola e dos Estados Unidos, que estavam de costas viradas durante a guerra fria e agora trabalham ombro a ombro, “é uma lição para o mundo”.
“Apenas temos que lembrar de quem somos: Somos angolanos, somos americanos”, concluiu.